Por Priscila Cardoso

Atordoadas, elas
levantam voo em uma tentativa frustrada de se defender. Ouve-se um disparo e,
logo, a ave cai morta e é posta dentro da embarcação. O ritual se repete toda
manhã. De barco cheio, os caçadores voltam à terra firme a procura de compradores. Algumas já têm, até,
destino certo, já que são caçadas sob encomenda. As aves, então salgadas e vendidas aos pares, custando, cada
um, entre R$ 15 e 20 reais.
A cena descrita acima
é comum em várias municípios da Baixada Maranhense. A caça de jaçanãs, além de
uma forma de sustento, é uma tradição entre aquelas comunidades, sendo o arroz
preparado com a ave, uma iguaria típica da região.

Segundo o
pesquisador, existem registros de caçadas a essas aves desde a década de 60. A intensidade
dessa caça e a falta de açõesvoltadas para a preservação da jaçanã,
levaram Antonio Augusto Rodrigues a desenvolver a pesquisa “Sustentabilidade e Conservação da jaçanã”.
Um recurso alimentar tradicional na Baixada Maranhense”. “ Com esse estudo
queremos conhecer a extensão dessa caça, em que município ela é mais
frequente, e quais áreas seriam mais
interessante estabelecer um mapeamento de ocorrência e reprodução, explicou”
Sustentabilidade

No caso da Baixada
Maranhense, o maior risco consiste no uso
excessivo dos recursos naturais
sem considerar a capacidade de suporte do ecossistema.
Considerando o total
desconhecimento do status populacional da
jaçanã, devido à ausência de dados
consistente sobre a sua dinâmica, Rodrigues considerou imprescindível o estudo dessa espécie do
ponto de vista da sustentabilidade e conservação, assim como pelos fatores
ambientais, sociais e culturais envolvidos. “ A grande ideia do projeto é
descobrir se esse recursos a longo prazo pode ser exaurido de alguma forma. Embora saibamos que a caça é bastante localizada,
que os animais não andam em bandos muito grandes e que os caçadores possuem uma
limitação natural devido á dificuldade de acesso ás áreas, as informações que
temos é que as caçadas são muito
extensas, chegando um caçador a abater de 40 a 80 exemplares a cada caçada”,
justificou.
Em 1962, o
pesquisador Álvaro Aguirre já mostrava preocupação com a conservação das
jaçanãs ao observar em seus estudos a
ausência de dados estatísticos populacionais da jaçanã e a indiscriminada matança que já ocorria nos
municípios de São Bento e são Vicente Ferrer. Ele contabilizou por volta de
150.000 aves abatidas em única temporada. Já Rodrigues, em um levantamento
realizado em 2012, estimou que 10 mil exemplares foram capturados apenas no
municípios de São Bento.

Ações efetivas que
prezem pela conservação e sustentabilidade da ave são cada vez mais urgentes,
já que, além da caça indiscriminada, as chuvas estão cada vez mais escassas na
região. “ As jaçanãs são completamente adaptadas a ambientes úmidos. Suas
pernas alongadas são apropriadas para andar na vegetação aquática. Elas não
sobrevivem em áreas de seca.É uma animal que depende completamente de fatores
ambientais para sobrevivência , como a disponibilidade de chuva em determinado
períodos do ano. Esse ano choveu muito pouco. Temos inclusive informações de
que em alguns municípios, como Palmeirândia
e São João Batista, os campos não encheram”,alertou o pesquisador.
Para Rodrigues ,
proteger a reprodução da jaçanã é a
solução para a garantia de sua
conservação.” O ideal seria estabelecer
período de caça, após o período de
reprodução e eclosão dos ovos. A
proteção desta reprodução garantiria uma
taxa de renovação dessa população, ou seja, os indivíduos que nascessem agora
iriam crescer, dentro de alguns meses migrariam com os adultos e voltariam para
reproduzir nos anos seguintes”, detalhou.
Após a conclusão da
pesquisa, Antonio Augusto Rodrigues pretende
submeter os resultados à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, a fim de que
ações possam ser desenvolvidas em prol da conservação e sustentabilidade da
jaçanã, como estabelecimento de períodos de proteção e caça de espécie e
políticas de conscientização ambiental.
Segundo o pesquisador,
os próprios caçadores confessam ter percebido
uma diminuição na quantidade de jaçanãs. A conservação da ave, dessa
forma, é urgente, representando não só um beneficio para a própria população,
mas a preservação de um maiores símbolos culturais da Baixada Maranhense.
Fonte: Revista
Inovação/Fapema
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