A presidente do Consórcio dos Municípios da Estrada de Ferro
Carajás (COMEFC) e prefeita de Bom Jesus das Selvas, Cristiane Damião, afirma
que a mineradora Vale trata as populações maranhenses atingidas pelo corredor
da ferrovia, com descaso, abandono e exploração de ‘trabalho praticamente
escravo’.
Para a presidente do Consórcio, “é inadmissível que a maior
mineradora do mundo (em diversidade) usufrua dos bens naturais, que são
patrimônio de um povo, e não cumpra a Lei devida, criada em 1997 para melhorar
o IDH dos 23 municípios que margeiam a EFC (Estrada de Ferro Carajás)”. A
situação é tão crítica, de acordo com a prefeita, que “hoje 83% dos municípios
consorciados possuem IDH abaixo da média do Maranhão e isso ocorre devido aos
recursos que estas cidades deixam de arrecadar referentes a movimentação de
minério na Estrada de Ferro Carajás, gerenciada pela Vale”.
A
seguir a entrevista, na qual a presidente do Consórcio detalha as mazelas
praticadas pela Vale contra os maranhenses, em nome do ‘bom capitalismo’.
Jornal
Pequeno – Qual é o quadro hoje para essas populações que sofrem influência da
estrada de ferro Carajás?
Cristiane
Damião –
Descaso e Abandono. É inadmissível que a maior mineradora do mundo (em
diversidade) usufrua dos bens naturais, que são patrimônio de um povo e não
cumpra a Lei devida, criada em 1997 para melhorar o IDH dos 23 municípios que
margeiam a EFC (Estrada de Ferro Carajás). A Vale atinge as Comunidades de uma
forma agressiva, causando danos ambientais, socioeconômicos e acima de tudo
enfraquecendo o gestor municipal, por meio das estratégias ilegais, imorais e
desumanas.
JP
– Existem alguns pontos mais críticos?
CD – Com certeza. A devastação da fauna
e da flora é o dano mais irreversível, pois o meio ambiente pode demorar muitos
anos ou até nunca mais se reestruturar. Outros pontos críticos são: rachaduras
nas casas, doenças de pele e pulmonares, acidentes com vítimas fatais nos
trilhos, poluição do ar e das águas pela fuligem do minério mal transportado e
poluição sonora intermitente que prejudica o bem-estar deste povo tão sofrido.
A Vale não valoriza a mão de obra do povo maranhense, já que a remuneração que
paga aos empregados é baixíssima. Ela se agarra na desculpa de que as pessoas
não têm capacitação, mas por outro lado não promove nenhum curso de
aperfeiçoamento para o desenvolvimento profissional dos funcionários, ou seja,
alimenta a situação de carência intelectual e de dependência do trabalho
praticamente escravo.
JP
– Quais as principais reivindicações?
CD – Primeiro, reivindicamos os valores
depositados no Fundo Regional de Desenvolvimento – FRD, criado pela Vale junto
ao BNDES em 1997 na sua privatização; para indenizar os municípios dos impactos
ambientais e socioeconômico causados pelo transporte do minério. Além disso,
temos direito nas compensações ambientais pagas pela mineradora ao Estado do
Maranhão (Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Natuarais – Sema) e
que nunca foram repassados para os Municípios, através da Câmara Estadual de
Compensação Ambiental – Ceca. Além desses pontos, cada município irá instituir
o Fundo de Desenvolvimento Municipal – FDM, onde a Vale será a patrocinadora e,
estes recursos serão investidos diretamente na educação, saúde, geração de
renda, meio ambiente e infraestrutura. Além de outras ações estruturantes.
JP
– Qual é a avaliação da audiência realizada na Assembleia?
CD – A audiência foi de grande
proveito, pois conseguimos demonstrar para que e o porquê da criação da COMEFC.
Estreitamos os laços entre gestores, deputados, representantes da classe
política e da sociedade civil organizada. Definimos os objetivos a serem
alcançados e identificamos o papel dos gestores na busca resultados concretos e
contínuos, fazendo do COMEFC uma referência para outros países, onde a
Mineradora se faz presente.
JP
– Qual o motivo da Vale estar se negando a participar dos debates?
CD – A Vale está evitando os debates,
pois na realidade reconhece que não tem cumprido com as suas responsabilidades.
A vale é consciente de que deixa os Municípios em condições precárias e por
isso quer evitar que isto venha à tona, através da mídia, gerando uma
repercussão mundial.
JP
– O que levou a fazer audiência na Câmara Federal e na de Vereadores?
CD – Para mostrar não só ao Maranhão,
mas a todo Brasil, a falta de respeito com que a Vale trata o povo maranhense,
fazendo deste problema algo de interesse nacional.
JP
– Como tem sido a postura dos políticos e da sociedade civil?
CD – É necessário que todos os
políticos do Maranhão abracem esta causa, afinal o problema não é apenas de um
Município, mas do Estado como um todo. Os políticos têm por obrigação retribuir
o voto, na defesa e proteção de seus cidadãos. A sociedade civil a cada dia que
passa se comove e se sensibiliza, dando apoio a esta iniciativa. A sociedade
está cheia de esperança e confiante na união de gestores comprometidos como seu
povo.
JP
– É verdade que estas comunidades apresentam um dos piores índices de IDH do
Brasil?
CD – O Maranhão ocupa a 26ª posição no
IDH do Brasil e estas comunidades apresentam índices mais baixos que o do
próprio estado.
JP
– Qual é o papel da Justiça nos trilhos?
CD – A Justiça nos Trilhos é uma
organização não governamental, que há seis anos luta pelos direitos dos
cidadãos prejudicados pelos impactos da Vale. Estamos unindo forças para
galgarmos a tão sonhada compensação dos prejuízos que a Vale nos deve.
Fonte:
Jornal Pequeno,
domingo 16 de junho de 2013
Entrevista concedida ao jornalista Waldemar Ter
Entrevista concedida ao jornalista Waldemar Ter
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