Genilson Filho com os pais |
O Estado do Maranhão
Por Jock Dean
Apesar
dos avanços da medicina, campanhas de esclarecimento e superação de pessoas com
trissomia, a Síndrome de Down ainda é vista por muitas pessoas como um
obstáculo na vida dos portadores desta alteração genética. De fato, uma pessoa
que nasce com Down tem algumas limitações, mas elas podem ser superadas. O
adolescente Genilson Protásio Filho é um desses exemplos. Na semana passada,
ele ingressou no curso de técnico em informática do Instituto Federal de
Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), tendo sido aprovado em primeiro lugar,
entrando pelas cotas destinadas a portadores de deficiência. Ele se tornou o
primeiro estudante portador de Síndrome de Down da instituição.
A
escolha do curso e a decisão de participar do seletivo foram do próprio
estudante. Ele não escolheu a formação por acaso. Desde criança, o adolescente
demonstrou facilidade com jogos eletrônicos e informática, tanto que a família
deu um computador para ele e agora lhe comprará um tablet, que é necessário
para o curso do IFMA. “Eu sempre gostei de mexer em máquinas, de desmontar os
brinquedos para saber como eles funcionam”, revela Genilson Filho.
Mas
foi a direção da Escola Educar, percebendo as habilidades de Genilson para a
área, já que no 9º ano ele participou da turma de robótica, que sugeriu à
família que o estudante prestasse seletivo para uma instituição de ensino que
também oferecesse curso técnico. “Eu fiquei na dúvida de onde matriculá-lo,
pensei até em colocá-lo em alguma escola privada, mas conversamos com ele e ele
escolheu fazer técnico em informática no IFMA”, conta Rosanilce Ribeiro, mãe de
Genilson Filho.
Aos
17 anos, Genilson Filho é um adolescente comum, apesar das suas limitações.
Quando O Estado chegou em sua casa para a entrevista, ele conversava com amigos
pelo celular usando o aplicativo de mensagens instantâneas mais popular da
atualidade, o WhatsApp. “A gente percebeu desde cedo que ele gostava e tinha
habilidade em informática, mas nós também sempre o incentivamos, tanto que
compramos um computar e demos um celular”, diz Rosanilce Ribeiro.
No
dia do seletivo, ele teve uma hora a mais para responder às questões e contou
com o auxílio de um ledor para poder preencher o gabarito da prova. As aulas no
IFMA começaram dia 22 de janeiro, mas só na quinta-feira (6) Genilson começou a
frequentar o curso. No início da semana, ele e a mãe foram até o IFMA conhecer
as instalações da instituição e seus colegas de turma, a quem já foi
devidamente apresentado. “A gente também conversou com a psicopedagoga do IFMA
para saber como serão as aulas”, informa a mãe.
Perfil –
Genilson Filho é um adolescente introspectivo e em seus momentos de lazer gosta
de ficar em casa jogando videogame, mas, junto com a família, ele participa de
atividades que promovam a inclusão social de pessoas com algum tipo de
deficiência. No ano passado, ele foi eleito presidente da Juventude do Fórum
Municipal da Pessoa com Deficiência, em São Luís, movimento iniciado pelos seus
pais após o seu nascimento, e participa de diversos eventos pelo estado. No mês
passado, ele acompanhou o pai ao interior do estado, onde foi implantado mais
um conselho municipal.
Especialistas
destacam que não existem graus de síndrome de Down. O desenvolvimento dos
indivíduos com a trissomia está intimamente relacionado ao estímulo e incentivo
que recebem, sobretudo nos primeiros anos de vida. E o apoio dos pais foi
fundamental para que Genilson Filho pudesse desenvolver suas habilidades.
“Genilson nasceu de oito meses. Quando ele nasceu, a gente não sabia nada sobre
Down, mas os médicos sempre disseram que Genilson podia ter um desenvolvimento
normal, então nós procuramos entender o era a síndrome”, conta Rosanilce
Robeiro.
O
primeiro contato da família com alguma fonte de informação fora dos
consultórios médicos foi por meio do livro Muito prazer, eu existo, de Claudia
Werneck, o primeiro livro escrito no Brasil sobre síndrome de Down para leigos.
Então, em 1998, quando Genilson tinha apenas 2 anos, a família começou a
participar de fóruns, eventos e congressos. “Eu fui a um congresso em Brasília
e vi muitos portadores de Down fazendo dança, teatro e uma série de outras
atividades comuns, então eu disse que queria que meu filho fosse uma criança
como todas as outras”, lembra Rosanilce Ribeiro.
Ambiente escolar –
Se a busca por informação e incentivo por parte da família é fundamental para
que o portador de Down possa se desenvolver, a inclusão no ambiente escolar é
necessária para que ele aprenda a viver em sociedade. E este foi outro grande
desafio para a família. Rosanilce Ribeiro queria que o filho estudasse em uma escola
comum. Então buscou uma escola em que ele pudesse cursar as disciplinas normais
em salas comuns. Com a ajuda de fonoaudiólogos e psicopedagogos, ela conseguiu
adaptar as avaliações às limitações do filho.
A
mãe de Genilson Filho destacou que as escolas precisam ter disponibilidade para
receber pessoas portadoras de deficiência. “Não é imprescindível que a escola
tenha turma especial e professoras com especialização em educação especial para
incluir a criança portadora de algum tipo de deficiência. O primordial é ter
disponibilidade. E a escola onde eu matriculei Genilson se abriu para ele. Além
das disciplinas regulares, ele fez teatro, coral, robótica”, conta.
Agora,
Genilson e a família se preparam para outro desafio, o IFMA. “O IFMA tem alunos
portadores de diversos tipos de deficiência, mas Genilson vai ser o primeiro
com Down. Eu já conversei com a psicóloga da instituição para manter o mesmo
padrão que eu tinha na antiga escola dele e ela disse que receber meu filho
será um desafio também para ela, mas estamos prontos”, afirma a mãe.
Mais
A
síndrome de Down é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na
maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção de
uma criança. As pessoas com síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21,
têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da
população.
Entre
as características físicas associadas à síndrome de Down estão: olhos
amendoados, maior propensão ao desenvolvimento de algumas doenças, hipotonia
muscular e deficiência intelectual. A intensidade de cada um desses aspectos
varia de pessoa para pessoa e não há relação entre as características físicas e
um maior ou menor comprometimento intelectual.
Também
é importante destacar que a síndrome de Down não é uma doença, e sim uma
condição inerente à pessoa, portanto não se deve falar em tratamento ou cura.
Parabens pelo titulo da materia caro Martin, " A inclusão eh o privilegio de conviver com as diferenças ", como diz Mantoan.
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