A industrialização do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba
é uma das alternativas para estimular a exploração sustentável e agregar valor
ao produto final, beneficiando os mais de 4,5 mil catadores que vivem da
captura e comercialização da espécie na divisa dos estados do Maranhão e do
Piauí. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(Codevasf) – em parceria com outras instituições – apoia a estruturação da
cadeia produtiva com ações que buscam o desenvolvimento sustentável da
atividade.
João Batista Martins - superintendente da Codevasf |
O
superintendente regional da Codevasf no Maranhão, João Batista Martins, enumera
os benefícios proporcionados pelo apoio da empresa. Segundo ele, os
beneficiários passam a contar com uma série de elementos que agregam valor a
essa atividade. “Eles dispõem agora de uma real melhoria na cadeia produtiva,
inclusive com índices menores de perda da produção. Além disso, há uma
diversificação do mercado e um aumento de renda para os beneficiários. E mais:
passa-se a contar com um mercado salubre, eficiente e mais adequado aos cuidados
sanitários dos produtos ali beneficiados”, explica o superintendente.
Dentre
outras ações, a Codevasf implementou um
projeto-piloto para a industrialização do caranguejo-uçá. “Após reuniões
realizadas com catadores de caranguejo e com responsáveis por empresas de
processamento de pescado da região, foi implementado o projeto-piloto onde
foram desenvolvidos produtos que foram testados em restaurantes de Fortaleza
(CE), Recife (PE), Parnaíba e Teresina (PI). Além de altamente viáveis técnica
e economicamente, os produtos apresentaram ótima aceitação entre consumidores
de estabelecimentos onde foram experimentados”, destaca o engenheiro de pesca e
assessor da presidência da Companhia, Albert Bartolomeu Rosa.
“A pesquisa foi muito importante, mostrou que tem a
possibilidade de trabalharmos com o caranguejo sem ter muita perda. A maioria
dos catadores que participou da pesquisa concordou com a maneira porque
valorizaria a produção e, com o pouco que a gente produzisse, o ganho daria
para nos mantermos”, afirma o catador de caranguejo-uçá Marco Antônio dos
Santos Costa, que trabalha há 33 anos catando caranguejo na região do Delta do
Parnaíba. “É a nossa fonte de vida. É da minha profissão de catador e pescador
que desde os 16 anos tiro o sustento da minha família”, diz.
Os caranguejos extraídos dos mangues são amarrados em
conjuntos de quatro unidades em “cordas”, que são agrupadas em dez unidades,
formando o que é conhecido como “cambada”. Após a captura, os caranguejos ficam
expostos ao sol, a altas temperaturas, sendo umedecidos com frequência e
cobertos com folhagens extraídas do mangue. Daí eles seguem para os portos,
onde são transferidos para caminhões que realizam o transporte para outras
localidades. Os caminhões são carregados com cerca de três ou mais toneladas de
caranguejo, amontoados em pilhas de mais de um metro, cobertos por lona, sem
refrigeração, e são transportados por cerca de 350 a 500 km até as cidades de
destino.
“Basicamente, a Codevasf buscou criar uma alternativa à
forma como o caranguejo chega atualmente ao mercado. Atualmente, eles ainda são
transportados em carrocerias de caminhonetes e caminhões, empilhados em colunas
que chegam a superar um metro de altura, ao ponto que, considerando todo o
processo, desde a captura até a chegada ao mercado, as perdas superam 50%”,
explica o engenheiro de pesca da Companhia.
Durante o projeto-piloto – como alternativa para reduzir
a mortalidade que ocorre ao longo da cadeia produtiva e criar produtos com
maior valor agregado – foram desenvolvidos e testados nove produtos, examinados
e avaliados quanto à metodologia de processamento, aos parâmetros químicos,
microbiológicos e sensoriais obtidos e à aceitabilidade de consumidores em
testes nos restaurantes. Um dos resultados do projeto foi a publicação do livro
“Industrialização do caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba”, editado pela
Codevasf.
A tecnologia desenvolvida pela Companhia durante o
projeto-piloto – que contou com consultores internacionais com experiência em
industrialização de caranguejos, mesmo sendo de espécies diferentes da
existente no Delta do Parnaíba – está disponível para os empreendedores
interessados em fortalecer a atividade extrativista e contribuir para a
organização e a sustentabilidade dessa importante cadeia produtiva da região
Nordeste.
“Ela vai ajudar a preservar a espécie no mangal, porque
vai ter mais caranguejo; vamos catar selecionando os caranguejos, somente os
grandes, os mais graúdos; vai valorizar o preço; e não vai ter tanta perda
caranguejo. Vai ter mais caranguejo e nós vamos ganhar mais com o pouco que
produzirmos, com um caranguejo de maior qualidade”, comenta o catador Marco
Antônio dos Santos Costa.
Além de
empresários da região que estudam implantar a tecnologia em escala de produção,
a iniciativa da Codevasf chamou a atenção da produtora de cinema e TV Gullane.
A empresa, responsável por filmes como “Carandiru” e “O ano em que meus pais
saíram de férias”, está produzindo o documentário “Costa do Brasil” para
mostrar a diversidade brasileira. Com cinco episódios – que devem ser exibidos
no início de 2014 pelo canal Arte, na França, e depois pelo Canal Brasil –, a
história dos catadores e da industrialização do caranguejo-uçá no Delta do
Parnaíba, apoiada pela Codevasf, deve ser um dos destaques do documentário.
Parcerias
A Codevasf executou o projeto-piloto de industrialização
de caranguejo-uçá da Planície Litorânea do Parnaíba – com base na tecnologia de
industrialização empregada no Chile para outras espécies de caranguejos – com
recursos da Secretaria de Programas Regionais do Ministério da Integração
Nacional e em parceria com a Fundação de Educação, Cultura e Desenvolvimento
Tecnológico (Fundetec) e o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS).
Também participaram do projeto a Associação dos Catadores
de Caranguejo Delta-Uçá, que forneceu a matéria-prima, e a empresa SECOM
Aquicultura, Indústria e Comércio S.A., onde foram elaborados os produtos com
todas as exigências requeridas pelo Serviço de Inspeção Federal do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Para estruturação e sustentabilidade da atividade, a
Codevasf construiu o Centro de Recepção e Comercialização de Caranguejos do
município de Ilha Grande (PI), em parceria com o Governo do Estado do Piauí;
realizou o microzoneamento ecológico-econômico da Planície Litorânea do
Parnaíba, por intermédio da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da
Universidade Federal do Maranhão; e realizou estudo para avaliar o potencial de
industrialização de caranguejo no Delta do Parnaíba, com financiamento do
Ministério da Integração Nacional.
Além
disso, foi construído no município de Araioses (MA), distante aproximadamente
480Km da capital, São Luís, uma Unidade de Processamento e Beneficiamento de
Caranguejos e Mariscos. Foram investidos na construção do prédio e na aquisição
de equipamentos (freezeres, vestimentas, barcos de pesca, balanças, recipientes
de acondicionamento) recursos de cerca de R$ 230 mil, oriundos do Ministério da
Pesca e Aquicultura (MPA) e da Codevasf.
Transporte adequado
A unidade Meio Norte da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) apresentou o uso de caixas de plástico (monoblocos) com
esponjas úmidas como alternativa para o transporte dos animais vivos para
evitar a desidratação dos caranguejos e proporcionar melhores temperaturas
durante o transporte, melhorando os índices de sobrevivência
e rendimento do produto.
Em julho deste
ano, o Ministério da Pesca e Aquicultura estabeleceu, por meio de instrução
normativa, padrões e normas de acondicionamento adequado para o transporte
terrestre e aquaviário de carga viva de caranguejo-uçá nos estados do Pará,
Maranhão, Piauí e Ceará. Além de cadastro no Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os responsáveis pelo
transporte terrestre devem acondicionar os caranguejos desamarrados em caixas
plásticas vazadas, forradas com espuma de acolchoamento embebida em água; e em
caixas plásticas vazadas, sacos, paneiros, peras ou acomodações que garantam a
sobrevivência dos animais no transporte aquaviário.
Fonte: Assessoria de Comunicação
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