Jacir Moraes |
Diante da gravidade pela qual passei, fui obrigado a me aposentar por
invalidez e, para fazer este relato, contei com a colaboração da jornalista
Sílvia Tereza na digitação. Todos esses eventos me fizeram permanecer em casa
24 horas por dia. E sem poder desenvolver a minha atividade, passei a explorar
mais a minha mente e comecei a relembrar o passado, atento ao presente, e
imaginar coisas que ainda estão inéditas. E a partir de agora, espero expressar
meus sentimentos.
Antes de me aposentar, eu já estava afastado do jornal O Debate, veículo
que eu fundei há 30 anos e dirigi. Por força de uma ação judicial, fui afastado
da direção do periódico numa manobra capitaneada por um pequeno advogado que se
diz influente no meio jurídico, homem com mais ou menos um e vinte de estatura,
apelidado de tamborete de forró ou sagüi pelas orelhas avantajadas e o corpo
minúsculo.
Uma das coisas que mais me chamou atenção ao longo desses mais de três
anos foi a ausência de muitos que eu pensava que eram meus amigos e cheguei à
conclusão de que não os tenho. Mas fiquei a me perguntar: onde estão os meus
amigos? E uma voz do subconsciente respondia: eles não existem, eles não
existem, eles não existem…, seu teimoso!
Recentemente, com dificuldade, eu ensaiei umas voltinhas de carro pela
cidade que está toda revirada como destroços de guerra. Diria, tudo fuçado e
nada concluído ou realizado. Parei ali na antiga Praça João Lisboa, hoje
propriedade dos travestis, sobre os quais nada tenho contra, saltei do carro e
um velho jornaleiro se aproximou de mim e me chamou pelo meu nome: “E aí, seu
Jacir, tudo bem?” E, prontamente, respondi que sim. Ele me perguntou se eu
estava só. Disse que sim. Depois, indagou: “mas o que foi que houve, onde estão
os famosos amigos que te cercavam?”. Eu então lhe disse que isso era coisa do
passado e que hoje os meus amigos somados não chegam a dois dígitos.
Cheguei a tal conclusão, depois de recorrer à matemática, ciência exata:
mentalizei de um a nove, e nove noves fora nada. Ou seja, estou sozinho. Mas como
diz o adágio popular: antes só do que mal acompanhado.
Com a doença da qual eu fui vítima e com a quebradeira em que eu vivo,
os mui amigos desapareceram; conto hoje apenas com três cuidadoras . Mas por
isso, eu não me abato. A aposentadoria que recebo da Previdência e a
providência divina me são suficientes para degustar, de vez enquando, uma dose
de uísque. Agora, sozinho…
* Jacir Moraes é jornalista, fundador do jornal O
Debate, ex-secretário de Comunicação da Assembleia Legislativa, trabalhou 26
anos na Rádio Timbira do Maranhão, foi editor do Diário Oficial do Estado e
ex-presidente da Abgraf – Regional Maranhão e, a partir de agora, colaborador
do Blog da Sílvia Tereza.
Nota do blogueiro:
Apesar de considerar um dos grandes nomes da comunicação do Maranhão, dando oportunidade a dezenas de jornalistas que inciaram na redação de O Debate, não tive ainda a oportunidade conhecê-lo. Lembro de Decio Sá, relatando a chance que teve iniciando na redação do jornal de Jacir. Pela falta de estrutura do jornal, todo mundo chegava suado aos locais de pauta a bordo de uma velha kombi, dizia Decio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário