BRASÍLIA - Em uma investida que
surpreendeu e foi vista pelos adversários como uma tentativa desesperada de
estancar a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de
votos, o marqueteiro João Santana produziu um vídeo plagiando o polêmico e
criticado discurso do medo, usado pelo PSDB em 2002 na campanha de Lula contra
o tucano José Serra, tendo como protagonista a atriz Regina Duarte. Com locução
do ator Antônio Grassi, o filmete será veiculado na noite deste terça-feira e
mostra famílias sendo expulsas do campo, trabalhadores perdendo o emprego, e
crianças, sem escola, lavando carros em semáforos. No final, aparece na tela um
alerta contra a volta dos fantasmas do passado.
No filmete de 2002, Regina Duarte, com
semblante crispado, diz que o Brasil corre o risco de perder a estabilidade
conquistada, que o Brasil conseguiu conquistar muita coisa e não dava para “ir
tudo para a lata do lixo”. Em outro trecho, ela diz que há dois candidatos, que
um, Serra, ela conhece, que é o homem dos medicamentos genéricos e da política
de combate a AIDS, o outro, Lula, ela conhecia, mas não conhece mais: “Tudo o
que ele dizia, mudou muito. Isso dá medo na gente. Outra coisa que dá medo é a
volta da inflação desenfreada. Eu voto em Serra, voto sem medo”, diz o
comercial tucano de 2002.
Com mensagem subliminar parecida, o
filme do PT que será divulgado hoje mostra o que seriam conquistas exclusivas
do governo petista, com mães de famílias com filhos e acesso a escola e
remédios, opostas a imagens de desempregados, com olhares tristes e assustados,
desempregados e crianças passando fome nas ruas. Essas imagens são associadas
aos “fantasmas do passado” que não poderiam retornar .
“Não podemos deixar que os fantasmas do
passado voltem e levem tudo o que conseguimos” e “não podemos dar ouvidos a
falsas promessas”, diz o locutor, numa referência ao discurso dos adversários
Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que falam em medidas impopulares.
Dilma tem batido forte nessas promessas, insinuando que vão trazer desemprego e
arrocho salarial.
O uso do discurso do medo em campanhas
políticas não é algo novo e não é exclusividade do Brasil. No Chile, em 1988, a
campanha pela manutenção da ditadura de Augusto Pinochet também utilizava essa
estratégia. A campanha do SIM, pela continuidade de Pinochet no poder, afirmava
que os chilenos não podiam deixar que se repetisse o que acontecia no país
antes daquele governo, e mostrava pessoas dizendo que não queriam a volta da
inflação, pobreza, desemprego e da fome.
Fonte: Jornal O Globo
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