Por
Abdon Murad
Abdon Murad é advogado |
Causa-me espanto o silêncio das
autoridades em face aos últimos acontecimentos. O Maranhão, em todo o Brasil e
até além fronteiras, está sendo retratado como uma espécie de Disneylândia do
horror. Em todo o mundo as notícias dos presos decapitados, dos estupros, das
fugas dos presídios, da violência sempre crescente.
Sobre estes fatos, sobre esse noticiário tão negativo que coloca
em risco os investimentos, coloca em risco o nosso turismo e, sobretudo, o bem
estar da nossa população, as autoridades não têm nada a dizer. Dão o silêncio
como resposta. Não têm o que dizer. Leio aqui que pediram mais 15 dias para
explicar ao CNJ e ao MPF a situação dos presídios, leia-se: a matança e a
denúncia de estupros. Serão mais 15 dias para construir uma resposta. No momento
não sabem o que dizer. Não possuem os elementos que justifique dizer algo. Nem
uma mentira são capazes de formular.
Ora, estas denúncias, por sua gravidade, principalmente essa de
estupros de familiares de presos dentro dos presídios, são denúncias a exigir
uma pronta resposta do estado. Uma nota oficial, um desmentido cabal, se fosse
o caso, ou a adoção de providências urgentes para estancar o absurdo, e que
isso, ou o desmentido ou as providências, fossem amplamente divulgadas por
todos os meios na mídia. Trata-se, de uma nódoa que, com resposta consistente,
já fica difícil de sair, quanto mais quando as autoridades dão o silêncio como
resposta.
Um amigo me disse ontem suspeitar que a história dos estupros não
possui fundo de verdade. Argumentava que esse tipo de prática contrariaria,
segundo ele, o “código de ética dos bandidos”. Argumentei: Mas como, se as
autoridades assentiram com a denúncia do CNJ? Se nada disseram contra a
denúncia? Retrucou que querem, com a desculpa da calamidade, continuar a gastança
indiscriminada e e sem qualquer controle dos órgãos que deveriam controlar.
Custo a crer, são denúncias graves demais para ficarem sem resposta à altura ou
que algum insano as estejam deixando passar para ganhar alguns trocados numa
contratação direcionada.
A menos que sujam novos elementos, prefiro acreditar que há uma
quebra do chamado “código ético dos bandidos”, a acreditar que os governantes
perderam totalmente o juízo a ponto de deixar uma informação, se inverídica, de
tamanha gravidade ganhar o mundo com as consequências desastrosas que dela
advirá. É mais cômodo e conveniente acreditar que o governo perdeu totalmente o
controle da situação dentro e fora dos presídios, o que já é terrível, mas
menos danoso.
Ainda ontem, vi um brilhante comercial do partido da governadora
em ela e o ministro do turismo e, se não me falha a memória, um secretário,
apresentam o Maranhão como estado do futuro. Uma nova terra prometida prestes a
ser descortinada para mundo. É o maior crescimento do nordeste, a maior geração
de renda, os melhores modais de investimentos e logística. Hoje, leio que o
senador do Amapá, em entrevista num programa de rádio, saiu-se com mesma
cantilena.
Como digo sempre, não duvido que o Maranhão está crescendo, vejo
os helicópteros sobrevoando a cidade, vejo uma das frotas de carros novos
circulando pelas ruas sem paralelos no Brasil, vejo os shopping center lotados
todos os dias. O que digo sempre é que trata-se de um crescimento desigual, que
mantém o grosso da população sem acesso aos serviços básicos, sem escolas que
ensine, sem uma saúde digna, sem uma infra-estrutura condizente com o
crescimento que alardeiam. Um crescimento que privilegia a concentração de
renda, que tornam bem poucos ricos e muitos cada vez mais pobres.
Ainda assim, esse discurso da bonança rui quando nos deparamos com
o Maranhão real. O Maranhão que a cada dia se parece mais com uma, como disse
acima, Disneylândia do horror, com seus presos sendo decapitados, com as penas
dos presos passando para suas esposas, irmãs, e sabe-se lá, filhas ou mães, que
são estupradas para os seus entes não sejam mortas dentro dos presídios, com um
modelo de segurança que não permite um mínimo de liberdade para as pessoas de
bem. Estas, quando chegam em casa, têm que olhar para todos os lados para saber
se não serão vítimas de assaltos, se não terão seus veículos subtraídos, se não
serão mortas. Um estado onde as pessoas, como faziam há bem pouco tempo, não se
arriscam a ficar na porta conversando com os vizinhos e os jovens não podem mais
brincar nas ruas com seus colegas.
Quem se arrisca! Vejam que oficialmente já são quase mil
homicídios só este ano. Número que coloca, em termos proporcionais, a região
metropolitana da capital, entre os lugares mais violentos do mundo. Será que em
seus devaneios, as autoridades, esperam atrair turistas para um lugar assim?
Atrair investimentos para um estado onde esse tipo de coisa ocorre? Será que
fazem ideia de como o mundo está vendo o Maranhão hoje?
Diante de acontecimentos de tamanha gravidade, fatos que estão
ganhando o mundo num piscar de olhos e que apresentam o Maranhão como o cenário
de terror de histórias medievais, as autoridades não têm nada a dizer. Estão
mudas, caladas desde a semana passada, quando mais este escândalo ganhou as
manchetes. Não desmentem as notícias. Não apresentam, para a população, suas
justificativas. Nada. Não dizem nada. E, para agravar a situação, ainda,
segundo dizem os meios de comunicação, fazem é pedir uma prorrogação de prazo.
Estes fatos, estes acontecimentos, este silêncio, me fazem
indagar: Há governo no Maranhão?
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