quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

OPINIÃO: “HÁ GOVERNO NO MARANHÃO?”

Por Abdon Murad
Abdon Murad é advogado
Causa-me espanto o silêncio das autoridades em face aos últimos acontecimentos. O Maranhão, em todo o Brasil e até além fronteiras, está sendo retratado como uma espécie de Disneylândia do horror. Em todo o mundo as notícias dos presos decapitados, dos estupros, das fugas dos presídios, da violência sempre crescente.
Sobre estes fatos, sobre esse noticiário tão negativo que coloca em risco os investimentos, coloca em risco o nosso turismo e, sobretudo, o bem estar da nossa população, as autoridades não têm nada a dizer. Dão o silêncio como resposta. Não têm o que dizer. Leio aqui que pediram mais 15 dias para explicar ao CNJ e ao MPF a situação dos presídios, leia-se: a matança e a denúncia de estupros. Serão mais 15 dias para construir uma resposta. No momento não sabem o que dizer. Não possuem os elementos que justifique dizer algo. Nem uma mentira são capazes de formular.
Ora, estas denúncias, por sua gravidade, principalmente essa de estupros de familiares de presos dentro dos presídios, são denúncias a exigir uma pronta resposta do estado. Uma nota oficial, um desmentido cabal, se fosse o caso, ou a adoção de providências urgentes para estancar o absurdo, e que isso, ou o desmentido ou as providências, fossem amplamente divulgadas por todos os meios na mídia. Trata-se, de uma nódoa que, com resposta consistente, já fica difícil de sair, quanto mais quando as autoridades dão o silêncio como resposta.
Um amigo me disse ontem suspeitar que a história dos estupros não possui fundo de verdade. Argumentava que esse tipo de prática contrariaria, segundo ele, o “código de ética dos bandidos”. Argumentei: Mas como, se as autoridades assentiram com a denúncia do CNJ? Se nada disseram contra a denúncia? Retrucou que querem, com a desculpa da calamidade, continuar a gastança indiscriminada e e sem qualquer controle dos órgãos que deveriam controlar. Custo a crer, são denúncias graves demais para ficarem sem resposta à altura ou que algum insano as estejam deixando passar para ganhar alguns trocados numa contratação direcionada.
A menos que sujam novos elementos, prefiro acreditar que há uma quebra do chamado “código ético dos bandidos”, a acreditar que os governantes perderam totalmente o juízo a ponto de deixar uma informação, se inverídica, de tamanha gravidade ganhar o mundo com as consequências desastrosas que dela advirá. É mais cômodo e conveniente acreditar que o governo perdeu totalmente o controle da situação dentro e fora dos presídios, o que já é terrível, mas menos danoso.
Ainda ontem, vi um brilhante comercial do partido da governadora em ela e o ministro do turismo e, se não me falha a memória, um secretário, apresentam o Maranhão como estado do futuro. Uma nova terra prometida prestes a ser descortinada para mundo. É o maior crescimento do nordeste, a maior geração de renda, os melhores modais de investimentos e logística. Hoje, leio que o senador do Amapá, em entrevista num programa de rádio, saiu-se com mesma cantilena.
Como digo sempre, não duvido que o Maranhão está crescendo, vejo os helicópteros sobrevoando a cidade, vejo uma das frotas de carros novos circulando pelas ruas sem paralelos no Brasil, vejo os shopping center lotados todos os dias. O que digo sempre é que trata-se de um crescimento desigual, que mantém o grosso da população sem acesso aos serviços básicos, sem escolas que ensine, sem uma saúde digna, sem uma infra-estrutura condizente com o crescimento que alardeiam. Um crescimento que privilegia a concentração de renda, que tornam bem poucos ricos e muitos cada vez mais pobres.
Ainda assim, esse discurso da bonança rui quando nos deparamos com o Maranhão real. O Maranhão que a cada dia se parece mais com uma, como disse acima, Disneylândia do horror, com seus presos sendo decapitados, com as penas dos presos passando para suas esposas, irmãs, e sabe-se lá, filhas ou mães, que são estupradas para os seus entes não sejam mortas dentro dos presídios, com um modelo de segurança que não permite um mínimo de liberdade para as pessoas de bem. Estas, quando chegam em casa, têm que olhar para todos os lados para saber se não serão vítimas de assaltos, se não terão seus veículos subtraídos, se não serão mortas. Um estado onde as pessoas, como faziam há bem pouco tempo, não se arriscam a ficar na porta conversando com os vizinhos e os jovens não podem mais brincar nas ruas com seus colegas.
Quem se arrisca! Vejam que oficialmente já são quase mil homicídios só este ano. Número que coloca, em termos proporcionais, a região metropolitana da capital, entre os lugares mais violentos do mundo. Será que em seus devaneios, as autoridades, esperam atrair turistas para um lugar assim? Atrair investimentos para um estado onde esse tipo de coisa ocorre? Será que fazem ideia de como o mundo está vendo o Maranhão hoje?
Diante de acontecimentos de tamanha gravidade, fatos que estão ganhando o mundo num piscar de olhos e que apresentam o Maranhão como o cenário de terror de histórias medievais, as autoridades não têm nada a dizer. Estão mudas, caladas desde a semana passada, quando mais este escândalo ganhou as manchetes. Não desmentem as notícias. Não apresentam, para a população, suas justificativas. Nada. Não dizem nada. E, para agravar a situação, ainda, segundo dizem os meios de comunicação, fazem é pedir uma prorrogação de prazo.
Estes fatos, estes acontecimentos, este silêncio, me fazem indagar: Há governo no Maranhão?


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